Acompanhe algumas perguntas e respostas acerca do dom da Cura
Em que consiste o dom de cura?
O dom de cura é um carisma como os demais carismas que se recebem gratuitamente para colocar a serviço dos enfermos. É possível dizer que os cristãos, quando oram pelos doentes, às vezes descobrem com surpresa que Deus responde à sua oração sarando enfermos e quando essas curas se repetem, já é um sinal de que Deus quer usar essa pessoa através de sua oração, para manifestar compaixão pelos enfermos. Então, neste carisma de cura, quem atua é Deus. É Jesus quem cura. E o cristão que recebe o dom da cura, é pela fé que o recebe e que manifesta através de sua oração e o Espírito Santo manifesta um carisma respondendo à sua oração. É isso realmente o importante: nós oramos e Jesus cura; nós não curamos a ninguém, quem cura é Jesus.
Para receber o dom da cura se deve ter qualidades especiais?
Não, pois é um dom gratuito. O Senhor não dá este dom de cura a uns privilegiados. O dá a quem Ele quer. Mas se deve aspirar a ter dons espirituais. O diz São Paulo: “aspirem aos dons espirituais”; se alguém não quer receber este carisma Deus não vai impor. Há que se ter compaixão pelos enfermos e desejar ajuda-los. E quando alguém começa a orar pelos enfermos, pode ser que se manifeste esse carisma.
De que modo alguém deve desejá-lo e logo o colocar em prática?
Há que se obedecer aos carismas, há que se aspirar aos carismas, aos dons espirituais, nunca o Senhor vai impor um carisma à força, nos disse São Paulo “os espíritos dos profetas obedece aos profetas", quer dizer, o Espírito Santo que está nos profetas os impulsiona a profetizar, não os obriga, respeita a liberdade do profeta, de maneira que se alguém não quer, o Espírito Santo não vai atuar através dele. Por isso, disse São Paulo, “não apaguem o Espírito”. Há pessoa que recebem um carisma, um impulso a orar, por exemplo, pelos enfermos, porém não o fazem, e Paulo diz: “não apaguem o Espírito...julguem tudo e fiquem com o que é bom”.
São Paulo disse que o amor é o essencial, então por que se dá tanta importância aos carismas?
O amor é o maior, o mais importante, porém, vocês se dão conta que aquele que pratica um carisma está praticando um ato de amor? Porque o amor não é uma coisa especulativa, o amor se exercita na vida concreta e quando alguém coloca a serviço da comunidade um carisma que recebeu está exercitando o amor. O amor se exercita através de serviço. O amor não é uma coisa emocional somente. Aquele que muito ama é capaz de fazer grandes sacrifícios pelo amado, diz o Senhor. Então, no exercício dos carismas tu estás ajudando seu irmão e é a ajuda que você lhe dá que manifesta o teu amor. Não há nenhuma contradição. Aquele que pretende ter muito amor e recusa os carismas, como vai exercitar seu amor, se não é servindo?
Somente no Sim a Deus, somos completamente livres
Queridos irmãos e irmãs,
Hoje gostaria de falar sobre a oração de Jesus no Getsêmani, no Horto das Oliveiras. O cenário da narração evangélica desta oração é particularmente significativo. Jesus parte para o Monte das Oliveiras, depois da Última Ceia, enquanto reza com os seus discípulos. Narra o Evangelista Marcos: “E, tendo cantado o hino, saíram para o Monte das Oliveiras”(Marcos 14,26). Faz alusão provavelmente ao canto de alguns Salmos do Hallel com os quais se agradece a Deus pela libertação do povo da escravidão e se pede ajuda para as dificuldades e ameaças sempre novas do presente. O percurso até o Getsêmani é composto por expressões de Jesus que torna iminente seu destino de morte e anunciam a impendente dispersão dos discípulos.
Chegando ao Monte das Oliveiras, também naquela noite Jesus se preparaem oração. Masdesta vez acontece algo novo: Ele parece não querer ficar só. Muitas vezes Jesus se retirava à parte da multidão e dos próprios discípulos, se resguardando “em lugares desertos” (cfr Marcos 1,35) ou subindo “no Monte”, diz São Marcos (cfr Marcos 6,46). No Getsêmani, ao invés, Eli convida Pedro, Tiago e João para ficarem próximos. São os mesmos discípulos chamados para estarem com Ele no Monte da Transfiguração (cfr Marcos 9,2-13). Esta proximidade entre os três durante a oração no Getsêmani é significativa. Também naquela note Jesus rezará ao Pai “sozinho”, porque o seu relacionamento com Ele é totalmente único e singular: é o relacionamento do Filho Unigênito. Dir-se-ia, sobretudo naquela noite que ninguém poderia aproximar-se do Filho, que se apresenta ao Pai na sua identidade absolutamente única, exclusiva. Jesus, porém, mesmo chegando “sozinho” no ponto onde irá rezar, quer que pelo menos os três discípulos permaneçam não muito longe, em uma relação mais estreita com Ele. Trata-se de uma aproximação espacial, um pedido de solidariedade no momento no qual se sente aproximar-se da morte, mas é sobretudo uma proximidade na oração, para exprimir, de algum modo, a sintonia com Ele, no momento em que se aproxima o cumprimento até o fim da vontade do Pai e é um convite para que cada discípulo o siga no caminho da Cruz. O Evangelista Marco narra: “Levou consigo Pedro, Tiago e João e começou a sentir medo e angústia. Disse a eles: “A minha alma está profundamente triste até a morte; ficai aqui, e vigiai”(14,33-34).
Na Palavra que se dirige aos três, Jesus, mais uma vez, se exprime com a linguagem dos Salmos: “A minha alma está profundamente triste”, uma expressão do Salmo 43 (cfr Sal 43,5). A dura determinação “até a morte”, depois, recorda uma situação vivida por muitos enviados de Deus no Antigo Testamento, a qual é expressa na oração deles. Não raramente, de fato, seguir a missão que lhes é confiada significa encontrar hostilidade, rejeição, perseguição. Moisés sente de maneira dramática a prova que sofre enquanto guia seu povo no deserto, e diz a Deus: “Eu só não posso levar a todo este povo, porque muito pesado é para mim. E se assim fazes comigo, mata-me, peço-te, se tenho achado graça aos teus olhos”(Números11,14-15). Também para o profeta Elias não é fácil levar adiante o serviço a Deus e ao seu povo. No Primeiro Livro dos reis se narra: “Ele, porém, foi ao deserto, caminho de um dia, e foi sentar-se debaixo de um zimbro; e pediu para si a morte, e disse: Já basta, ó SENHOR; toma agora a minha vida, pois não sou melhor do que meus pais”. (19,4)
As palavras de Jesus aos três discípulos que os quer próximos durante a oração no Getsêmani, revelam como Ele experimenta o medo e angustia naquela “hora”, experimenta a última profunda solidão enquanto o designo de Deus se está realizando. E em tal medo e angústia de Jesus se recapitula todo o horror do homem diante da própria morte, a certeza de sua inexorabilidade e a percepção do peso do mal que perpassa a nossa vida.
Depois do convite para permanecer e vigiar em oração dirigido aos três, Jesus “sozinho” se dirige ao Pai. O Evangelista Marco narra que Ele “tendo ido um pouco mais adiante, prostrou-se em terra; e orou para que, se fosse possível, passasse dele aquela hora”(14,35). Jesus prostrou-se em terra: é uma posição de oração que exprime a obediência à vontade do Pai, o abandonar-se com plena confiança nEle.
Depois do convite para permanecer e vigiar em oração dirigido aos três, Jesus “sozinho” se dirige ao Pai. O Evangelista Marco narra que Ele “tendo ido um pouco mais adiante, prostrou-se em terra; e orou para que, se fosse possível, passasse dele aquela hora”(14,35). Jesus prostrou-se em terra: é uma posição de oração que exprime a obediência à vontade do Pai, o abandonar-se com plena confiança nEle.
É um gesto que se repete no inicio da Celebração da Paixão, na Sexta-feira Santa, como também na profissão monástica e nas Ordenações diaconais, presbiteriais e episcopais, para exprimir, na oração, também corporalmente, o confiar-se completamente a Deus, o confiar nEle. Depois Jesus pede ao Pai que, se possível, passasse daquela hora. Não é apenas o medo e a angústia do homem diante da morte, mas o envolvimento do Filho de Deus que vê a terrível massa de mal que deverá assumir sobre Si para superar-lo, para privá-lo de poder.
Queridos amigos, também nós, na oração devemos ser capazes de levar diante de Deus os nossos cansaços, os sofrimentos de certas situações, de certos dias, o compromisso cotidiano de segui-lo, de ser cristãos, e também o peso do mal que vemos em nós e ao redor de nós, para que Ele nos dê esperança, nos faça sentir a sua proximidade, nos doe um pouco de luz no caminho da vida.
Jesus continua a sua oração: “Aba, Pai, todas as coisas te são possíveis; afasta de mim este cálice; não seja, porém, o que eu quero, mas o que tu queres”. (14,36). Nesta invocação estão três passagens reveladoras. Ao inicio temos o dúplice termo com o qual Jesus se dirige a Deus: “Aba! Pai!”(Mc14,36 a). Sabemos bem que a palavra aramaica Abbá é aquela que era usada pelas crianças para dirigir-se ao papai e exprimir, portanto, o relacionamento de Jesus com Deus Pai, uma relação de ternura, de afeto, de confiança, de abandono. Na parte central da invocação existe o segundo elemento: a consciência da onipotência do Pai – “tudo é possível para ti” -, que introduz um pedido que, mais uma vez, aparece o drama da vontade humana de Jesus diante da morte e do mal: “afasta de mim este cálice!”. Mas existe a terceira expressão da oração de Jesus que é aquela decisiva, na qual a vontade humana adere plenamente à vontade divina.
Jesus, de fato, conclui dizendo com força: “Entretanto, que não seja aquilo que quero, mas aquilo que queres” (Marcos 14,36a). Na unidade da pessoa divina do Filho a vontade humana encontra sua plena realização no abandono total do Eu ao Teu do Pai, chamado Aba. São Máximo, o Confessor, afirma que desde o momento da criação do homem e da mulher, a vontade humana é orientada àquela divina e exatamente no “sim” a Deus que a vontade humana é plenamente livre e encontra a sua realização.
Infelizmente, por causa do pecado, este “sim” a Deus se transformou em oposição: Adão e Eva pensaram que o “não” a Deus fosse o cume da liberdade, o ser plenamente eles mesmos. Jesus no Monte das Oliveiras reporta a vontade humana ao “sim” pleno a Deus; nEle a vontade natural é plenamente integrada na orientação que lhe dá a Pessoa Divina.
Jesus vive a sua existência segundo o centro da sua Pessoa: o seu ser Filho de Deus. A sua vontade humana é puxada para dentro do Eu do Filho, que se abandona totalmente ao Pai. Assim Jesus nos diz que somente conformando a sua própria vontade àquela divina, o ser humano chega à sua verdadeira altura, torna-se “divino”; somente saindo de si, somente no “sim” a Deus, se realiza o desejo de Adão, de todos nós, aquele de ser completamente livre. É isto que Jesus realiza no Getsêmani: transferindo a vontade humana na vontade divina nasce o verdadeiro homem, e nós somos redimidos.
O Compendio do Catecismo da Igreja Católica ensina sinteticamente: “A oração de Jesus durante a sua agonia no Horto do Getsêmani e as suas últimas palavras na cruz revelam a profundidade da sua oração filial: Jesus leva a cumprimento o desígnio de amor do Pai e toma sobre si todas as angústias da humanidade, todos os pedidos e as intercessões da história da salvação. Ele os apresenta ao Pai que os acolhe e atende, além de toda esperança, ressuscitando-o dos mortos” (n.543). Na verdade, “em nenhuma outra parte da Sagrada Escritura vemos tão profundamente o mistério interior de Jesus como na oração no Monte das Oliveiras” (Jesus de Nazaré II,177).
Queridos irmãos e irmãs, todos os dias na oração do Pai Nosso nós pedimos ao Senhor “seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu” (Mt,6,10). Reconhecemos, isto é, que existe uma vontade de Deus conosco e para nós, uma vontade de Deus sobre a nossa vida, que deve se tornar cada dia mais uma referência do nosso querer e do nosso ser; reconhecemos ainda que é no “céu” onde se faz a vontade de Deus e que a “terra” se torna “céu”, lugar da presença do amor, da bondade, da verdade, da beleza divina, somente se na mesma é feita a vontade de Deus. Na oração de Jesus ao Pai, naquela noite terrível e estupenda do Getsêmani, a “terra” se tornou “céu”; a “terra” da sua vontade humana, tomada pelo medo e pela angustia, foi assumida pela vontade divina, assim foi que a vontade de Deus se realizou na terra.
E isto é importante também na nossa oração: devemos aprender a confiarmos mais na Providencia divina, pedir a Deus a força de sairmos de nós mesmos para renovarmos o nosso “sim”, para repetir-lhe “seja feita a vossa vontade”, para conformar a nossa vontade à sua. É uma oração que devemos fazer cotidianamente, porque nem sempre é fácil confiar-nos à vontade de Deus, repetir o “sim” de Jesus, o “sim” de Maria. As narrações evangélicas do Getsêmani mostram dolorosamente que os três discípulos, escolhidos por Jesus para estarem próximos dEle, não foram capazes de vigiar com Ele, de compartilhar a sua oração, a sua adesão ao Pai e foram envolvidos pelo sono.
Queridos amigos, peçamos ao Senhor para que sejamos capazes de vigiar com Ele na oração, de seguir a vontade de Deus todos os dias mesmo quando se fala de Cruz, de viver uma intimidade sempre maior com o Senhor, para trazer nesta “terra” um pouco do “céu” de Deus.
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A beleza de fazer parte de um povo singular: O POVO DE DEUS
Era véspera de Natal do ano de 1944 e o mundo sofria sob os terrores da Segunda Guerra Mundial que já se estendia por cinco anos. Pio XII dirigiu uma mensagem aos fiéis que foi ao mesmo tempo de conforto e de exortação a respeito de questões relacionadas ao conflito. Um dos assuntos principais foi a democracia. Ele esclareceu que a democracia de fato só é possível por meio de homens conscientes de seus deveres e direitos, de sua liberdade unida ao respeito da liberdade e da dignidade dos demais.
“O povo vive e se move com vida própria. [...] vive da plenitude da vida dos homens que o compõe, cada um dos quais em seu próprio posto e à sua maneira, é pessoa consciente de suas próprias responsabilidades e suas próprias convicções”, disse o Papa.
O que coloca a democracia em risco são os aglomerados amorfos (massas) suscetíveis à manipulação. Massa, definiu o Sumo Pontífice, é “joguete fácil nas mãos de um qualquer que explore seus instintos e impressões, disposta a seguir cada vez uma, hoje esta, amanhã aquela outra bandeira”. Ou seja, são pessoas que não agem verdadeiramente como sujeitos conscientes e livres.
Na edição passada, refletimos sobre como a compreensão de liberdade equivocada tem levado muitos a violarem a própria dignidade sem darem-se conta. Julgam que são livres, mas são escravos.
Em nome da liberdade, o ser humano tem feito mal a si mesmo e ao próximo. Só para ficarmos como um exemplo muito ilustrativo: a liberdade é invocada até mesmo para a defesa do assassinato. Não é esse o discurso de grupos que sem pudor algum defendem a ideia maligna de que é lícito o assassínio de crianças no ventre materno? Dentro dessa concepção, a liberdade nada mais é do que serva da cultura de morte.
A fé católica entende que liberdade, esse valor que distingue o que é povo e massa, não se confunde com o direito de se fazer o que quer que seja, mesmo o mal, contanto que agrade:
“A liberdade verdadeira é um sinal privilegiado da imagem divina no homem. [...] Exige, portanto, a dignidade do homem que ele proceda segundo a própria consciência e por livre adesão, ou seja, movido e induzido pessoalmente desde dentro e não levado por cegos impulsos interiores ou por mera coação externa. O homem atinge esta dignidade quando, libertando-se da escravidão das paixões, tende para o fim pela livre escolha do bem e procura a sério e com diligente iniciativa os meios convenientes.”
Se é possível entendermos a liberdade sob essa perspectiva, orientada para Deus, é porque “a fé esclarece todas as coisas com luz nova.” Também a compreensão do conceito de povo é ampliada ao receber as luzes da fé. A dignidade do ser humano - criado à imagem de Deus - é tamanha que ele é chamado a fazer parte não apenas de um povo circunscrito a determinado lugar. À luz da Revelação Divina, sabemos que todos os homens são convocados a fazerem parte do Povo de Deus. Como prometemos na edição passada, é sobre esse povo de características singulares que vamos refletir um pouco.
As características do Povo de Deus
As características do Povo de Deus
Pela fé sabemos que Deus escolheu Israel para ser o seu povo, manifestando-se a Si mesmo e os desígnios da Sua vontade na história dele. Tudo como preparação da Aliança nova e perfeita, que seria concluída em Cristo. Esta nova Aliança instituiu-a Cristo no seu Sangue, chamando um povo, proveniente de judeus e pagãos, a juntar-se na unidade, não segundo a carne, mas no Espírito.
Esse povo se distingue de todos os agrupamentos religiosos, étnicos, políticos ou culturais da história. A primeira distinção é a sua pertença a Deus. A condição para se ingressar nele é o nascimento do Alto, da água e do Espírito, isto é, pela fé em Cristo e pelo Batismo.
No coração das pessoas que pertencem a essa raça eleita, como num templo, reside o Espírito Santo que as leva a viverem na dignidade da liberdade dos filhos de Deus. Elas vivem a “lei nova” e agem tendo por base o mandamento novo dado pelo Senhor, de amar como Ele nos amou.
Todos os que são habitados pelo Espírito têm uma missão da qual não podem se furtar: ser sal da terra e luz do mundo. E que consolador: aqueles que desse povo fizerem parte têm por destino o Reino dos Céus, o qual, começado na terra pelo próprio Deus, se deve dilatar cada vez mais, até ser consumado no fim dos séculos.
A Igreja é esse povo reunido na unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo, na definição de São Cipriano, e o mandato missionário impulsiona-nos a buscarmos outros que ainda estão de fora: “Ide, pois, fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a observar tudo quanto vos mandei” (Mt 28, 19-20).
Ser massa, ou povo?
Ser massa, ou povo?
E nesse ponto podemos refletir sobre nosso chamado de vivermos e difundirmos a Cultura de Pentecostes. Se nos debruçamos sobre essas questões é porque devemos assumir como nossa a angústia de Cristo diante das multidões errantes e prostradas “como ovelhas sem pastor" e para repetir suas palavras "tenho compaixão desta multidão". E, também, para pensarmos com realismo sobre nossas vidas e atividades missionárias. Temos vivido como povo? O que temos feito para que as pessoas façam parte dele, tal qual concebido pelo Senhor, na mais total autenticidade?
Temos acesso às multidões, como Jesus tinha e, felizmente, testemunhamos verdadeiras conversões em nosso meio, mas sabemos que podemos aprimorar nosso serviço ao Senhor. Por isso, são pertinentes alguns questionamentos: com que frequência as pessoas que vêm até nós são motivadas apenas pelo nome da banda ou do pregador famosos; ou pela necessidade de algum milagre? Pessoas que sempre “precisam de impulso de fora”?
Aqueles que buscam a solução para os seus problemas em algum ambiente nosso estão passando por um processo de metanoia, conversão genuína? É preciso que pensemos seriamente sobre isso, porque se em nosso meio, ano após ano, ainda existem aqueles irmãos que vivem de evento em evento em busca do extraordinário, sem assumir os valores do Evangelho, certamente algo está errado.
Afinal, a evangelização visa à mudança radical de vida, individual e coletiva. A força do Evangelho deve modificar “os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade, que se apresentam em contraste com a Palavra de Deus e com o desígnio da salvação”.
Meta elevada, sabemos, mas essa é a proposta do cristianismo. Não podemos nos conformar. Estar na mesma forma. É preciso que estejamos dispostos a influenciar as realidades que nos cercam a partir de nós mesmos. “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito (Rm 12.2).
Quanto mais vivermos e levarmos outras pessoas a viverem como autêntico Povo de Deus, mais e mais o mundo viverá o que Jesus ensinou.
No coração das Massas
Jamais, na história do cristianismo, tivemos tantos meios para chegar às pessoas. Hoje, ouvimos falar de encontros cristãos católicos ou de outras denominações cristãs que reúnem multidões impressionantes. Os cristãos do Brasil estão ocupando lugares nas mais diferentes mídias que se têm à disposição em nossos tempos e isso é muito bom.
Mas o mundo está mais cristão? Os ensinamentos de Jesus Cristo estão sendo conhecidos e vividos de verdade? Lembremos que o Senhor, ao enviar os seus discípulos, ordenou-lhes que ensinassem os povos a observar tudo o que Ele lhes havia lhes dito: amor a Deus e ao próximo, perdão, pobreza, mansidão, simplicidade, renuncia, doação de vida ... Nada pode ser omitido. A esse respeito Bento XVI nos advertiu: a mensagem evangélica não pode ser “selecionada” para dar audiência, ser popular.
“Antes de tudo, devemos estar cientes de que a verdade que procuramos partilhar não extrai o seu valor da sua “popularidade” ou da quantidade de atenção que lhe é dada. Devemos esforçar-nos mais em dá-la a conhecer na sua integridade do que em torná-la aceitável, talvez a mitigando. ”
Como é fácil encontrar pessoas que recebem o Anúncio, até se emocionam, gostam das músicas cristãs, mas não estão dispostas a viver as renúncias da fé. Como temos lidado com isso? Estamos criando mecanismos para formar as pessoas na reta doutrina, para “aprofundar, consolidar, alimentar e tornar cada dia mais amadurecida a fé daqueles que se dizem já fiéis ou crentes, afim de que o sejam cada vez mais”?
Se temos tido contato com multidões e elas, ao saírem de nossa presença, continuam relativistas, selecionando os aspectos da fé que mais lhes agradam, se levam uma vida sem considerar os Mandamentos, se ignoram os ensinamentos de Cristo e de Sua Igreja, precisamos pensar seriamente a respeito.
Aqui entra o papel do pastoreio, como um esforço para que as ovelhas fiquem no aprisco, protegidas dos tantos lobos que as cercam. O pastoreio insere a pessoa em uma nova cultura; em nossa linguagem habitual: na Cultura de Pentecostes. É preciso despertar nelas a consciência de que fazem parte deste povo singular. Que desejem ir para a Igreja, ao Grupo de Oração, porque sabem o que significa fazer parte do Corpo do Senhor. E que elas próprias possam ser também propagadoras da Mensagem.
Para que isso aconteça, é preciso cuidar, amar, ouvir, ensinar, formar. É preciso ter paciência, também, porque essa mudança geralmente requer dedicação perseverante. É missão nossa trabalhar para que grupos sem identidade, sem forma, sejam transformados em Povo Deus.
Povo esse que se manifestou ao mundo no dia de Pentecostes e mudou o rumo dos acontecimentos da humanidade. Aqueles homens e mulheres da primeira hora do cristianismo encararam os desafios de seu tempo com coragem. Quando necessário derramaram o próprio sangue, que foi “semente de novos cristãos”. Eis uma história verdadeira e bonita, que mostra qual deve ser a postura do povo que leva o nome do Altíssimo.
História cara a todos nós que nos sentimos chamados a ser “rosto e memória” de Pentecostes. Certamente conhecê-la melhor nos fará perceber por que temos de lutar “pelo nosso povo e nossa religião” (Mac 3, 43) Assunto para a próxima edição.
Atenção:
Os dois artigos anteriores estão disponíveis em nosso portal na seção formação: Povo ou massa? eEventos: Portas de entrada ou fins em si mesmos?
Lúcia V. Zolin
Coordenadora Nacional da Comissão e Ministério de Comunicação
Grupo de Oração Divina Misericórdia
Coordenadora Nacional da Comissão e Ministério de Comunicação
Grupo de Oração Divina Misericórdia